São Francisco, na Califórnia, é a casa dos mais importantes eventos do mundo dos games e, desde 2012, incluiu na sua lista o Day of the Devs. Foi neste ano que o famoso game designer Tim Schafer, criador dos aclamados Psychonauts e Brütal Legend, decidiu criar um evento bem diferente para reunir fãs dos jogos eletrônicos.
E quando dizemos “diferente”, nos referimos à antítese de eventos espetaculares como a Electronic Entertainment Expo, a famigerada E3. Em entrevista para a Glixel, Schafer contou que, nos idos de 1995, quando ainda era designer na Lucasarts, participou da sua primeira E3. Segundo as palavras do próprio, “Haviam lasers para todo o lado, e o barulho era absurdo. Não haviam limitações de som naquela época e todos os estandes produziam barulhos no volume máximo. Então eu me escondi dentro de um banheiro químico e fiquei desenhando. Me senti tão aliviado por me isolar de tudo aquilo”, afirmou Schafer.
Depois de duas décadas, agora dono do seu próprio estúdio de criação, a Double Fine, Schafer não precisa mais da E3 e seu ambiente, que traz para a realidade a guerra dos consoles. A Double Fine, por exemplo, também não trabalha com revendedores e distribuidoras, levantando dinheiro através de crowdfunding, investimentos privados e publicando seus próprios jogos online.
O sucesso foi tanto que hoje o estúdio funciona como uma espécie de mini-publisher e incubadora, ajudando outros desenvolvedores independentes a colocarem seus jogos no mercado e promovê-los, inclusive oferecendo o espaço da Double Fine para aqueles que precisam de um escritório.
Plataformas como a Humble Bundle e a Steam apoiam a produtora em suas publicações, assim como o evento, criando promoções especiais inspiradas no Day of the Devs.
Uma ideia na cabeça, indie devs na mão
Foi com isso em mente que o game designer decidiu criar o Day of the Devs, um evento inspirado no mundo indie, muito mais próximo da realidade de quem desenvolve um jogo e longe do mundo do marketing e do espetáculo.
O Day of the Devs é totalmente gratuito e aberto para todos. Em 2016 aconteceu sua quarta edição, a maior edição de todos os tempos, onde os visitantes puderam entrar em contato com mais de 50 jogos indies antecipadamente, antes mesmo dos seus lançamentos.
“Este é o resultado do que nós estamos tentando fazer ao longo do tempo, colocando o foco na criatividade”, afirma Schafer. “Day of the Devs é uma celebração para esse povo louco que desenvolve jogos, não o espetáculo dirigido pelo marketing da E3. Nós representamos a conexão entre o jogador e o criador. Você pode trazer seus filhos e seu cônjuge que não gostam de games e dizer: é disso que se trata [gostar de videogames].”
Alguns dos jogos apresentados na edição 2016 do evento, que aconteceu no último dia 05 de novembro, como a aventura co-op Knights and Bikes estão sendo publicados pela própria Double Fine. Mas a maior parte dos expositores não têm relação alguma com a produtora, incluindo desde jogos feitos por estudantes, como o Ape Out, até games ambiciosos como Tacoma, desenvolvido pelos já premiados criadores de Gone Home.
Alguns desenvolvedores são convidados a participar por conta da relevância que seus jogos atingem no mercado, chamando atenção da mídia e do público. Porém boa parte dos expositores enviam suas apresentações durante o período estipulado pela abertura pública de participações, quando são avaliados e aprovados para participar. O evento recebe desenvolvedores da China à América Latina.
Muitos jogos puderam ser jogados pela primeira vez no evento Day of the Devs, incluindo Yooka-Laylee, um jogo de plataforma dos criadores de Banjo-Kazooie, do Nintendo 64. Depois de quatro anos, o evento se tornou um dos pontos altos para o lançamento de jogos indie, afirma Greg Rice, vice-presidente da Double Fine: “No primeiro ano nós tivemos apenas uns 10 games, mas eram conteúdos como Hohokum, Transistor e Super Time Force. Ano passado aconteceram grandes lançamentos como Secret Legend e Thumper, sendo o último um jogo já bastante comentado e esperado, produzido por dois ex-Harmonix.”
Harmonia e música são parte essencial do Day of the Devs
“A música é uma parte muito importante do evento.”, afirma Rice. “Este ano trouxemos músicos que criaram trilhas sonoras memoráveis para jogos como Oxenfree, Pixeljunk Eden e Superbrothers: Sword and Sorcery EP“. Phil Fish, criador do plataforma indie Fez, foi um dos DJs que animaram o ambiente.
A co-realizadora iam8bit é encarregada das performances musicais e das obras de arte relacionadas ao mundo dos games que são expostas por todo o evento, fazendo com que o Day of the Devs pareça mais um acontecimento cultural do que uma conferência fria.
A este ambiente diverso e comemorativo, Schafer atesta brincando: “Normalmente você não vê ninguém com menos de 18 anos ou mesmo pessoas servido bebidas alcoólicas nestes eventos. Mas aqui nós temos tanto crianças quanto álcool, ou seja, somos praticamente uma Oktoberfest com games!”
Para conhecer um pouco mais sobre o Day of the Devs, basta entrar no website oficial do evento.