De 1984 a 1999, a Gremlin Interactive viveu, e viveu dando ao mundo dos videogames frutos saudosos como Jungle Strike, Nigel Mansell’s World Championship Racing e Zool. Mas talvez o seu feito mais reconhecido mundialmente tenha sido a série de jogos de corrida Lotus, que aparecia nos computadores caseiros como Commodore e fez ponta no Mega Drive. Lotus serviu de base para um jogo peculiar para o nosso país: Top Gear, que hoje, dia 19 de Novembro faz 24 anos desde seu lançamento.
Para se fazer um jogo de corrida com sensações de velocidade interessantes aos olhos, Top Gear também usava uma tática da época que era de deixar os sprites de chão listrados, para dar sensação de movimento e evitar que apenas os sprites acima do solo produzissem efeitos de aproximação. Essa técnica foi largamente utilizada em jogos de arcade da SEGA e um belo exemplo a se pegar é o chão xadrez em Space Harrier.
O jogo consiste de uma variedade grande de pistas, que no fim tratam apenas de fundos diferentes, caracterizando cada país em que se corre, nada muito diferente do que já rolava com outros jogos de corrida. Uma pegada interessante é o efeito dos faróis que iluminam as pistas noturnas, que nada mais são que filtros negros na tela. O jogo possui um efeito interessante de amanhecer, com o filtro negro lentamente desaparecendo da tela, dando uma sensação bastante convincente ao jogador.
Top Gear possui um sistema para dois jogadores e isso é feito de forma interessante. Os gringos normalmente reclamam que até se jogando o jogo em um jogador, a tela será dividida, com a segunda dando lugar à CPU que se torna a sua rival direta. E isso é exatamente a grande atração no modo para um jogador. Normalmente todos os oponentes em um jogo antigo de corrida são tratados como iguais, mas dessa vez você tem que enfrentar aquele que é mais competente do que a média.
O sistema de pit stop também é uma adição estratégica, dando desconforto ao primeiro lugar que acha que a corrida já está supostamente ganha e no modo para dois jogadores a coisa pode pegar fogo.
São oferecidos 4 tipos de carros diferentes, cada um com uma cor bem distinta, mas a principal motivo da inclusão dos quatro é pela gameplay mesmo: cada carro possui um pico de velocidade máxima e essa velocidade varia drasticamente entre um em outro, mas não é só isso: quanto mais rápido o veículo for por natureza, mais combustível ele gasta também, fazendo com que o jogador mais apressadinho em algumas pistas tenha que fazer pit stop, enquanto os outros talvez não precisem. Este foi mais um complemento muito querido incluído no game, que tornou os carros quase personagens amados pelo público.
Trilha sonora clássica do Top Gear
Talvez no Brasil a característica mais lembrada do jogo é sua música, que dentro do chip do SNES simula sintetizadores e seus arpejos afim de produzir linhas musicais que estavam em voga principalmente no fim dos anos 80 até ali. Nisso você pode incluir artistas pop como Erasure ou New Order – nada mais inglês e sintetizador que isso.
Essas queridas e cativantes canções foram compostas por Barry Leitch, um simpático escocês que já produzia música para jogos, principalmente para computadores europeus da época.
Numa entrevista dada ao Gamasutra, Barry comenta um pouco sobre o chip de som do SNES e como foi desenvolver pra ele.
“Eu não me lembro muito, mas sei que o chip [SPC7000] tinha 8 canais simultâneos e isso era maravilhoso na época… Mais tarde a gente descobriu que o kit de desenvolvimento do console tinha uma placa de som removível que era uma placa ISA, e então a gente conseguia plugar ela num PC normal. Nisso, a gente usava um software que desenvolvi, junto com MEDIT (Software de composição utilizado pela Ocean no SNES) para compôr. Dessa forma era possível desenvolver uma música que pudesse ser reproduzida em várias plataformas, porém a gente nunca conseguiu fazer isso funcionar no Mega Drive. Quando eu comecei a trabalhar em Top Gear, eu gastei um dia em média só pra ver o que esse driver de som poderia alcançar. A maioria dos manuais estavam em japonês, então a gente não fazia ideia de explicação alguma dali, mas a estrutura de dados era bem óbvia.
Depois de muitos erros e acertos, a gente descobriu a capacidade do efeito de eco do SNES, e isso explodiu nossas cabeças na época porque era um efeito de audio DSP em tempo real. Nenhum outro console no mercado fazia aquilo. Mas isso teve um preço… Ele usava memória para cada milisegundo de eco que a gente aplicava. É por isso que Top Gear tinha um eco exatamente sempre na 16ª nota, é tudo que a gente podia fazer.”
Depois do sucesso do primeiro jogo, a Kemco tentou registrar a marca Top Gear para atrelar a jogos de corrida no geral, só que talvez ela não estivesse sabendo, mas desde os anos 70 há um programa de TV chamado Top Gear, que também é sobre automobilismo. O registro foi negado.
Valor médio no Brasil: R$100,00 (somente o cartucho)
Valor médio internacional: R$50,00 (somente o cartucho)
Programação | Ritchie Brannan, Ashley Bennett, Simon Blake |
Gráficos | Paul Gregory (Greggz) |
Músicas e programação de som | Barry Leitch, Hiroyuki Masuno |