Eventos de eSport e eRace já não são novidade há muito tempo para os pilotos de simuladores de corrida. Os jogos de carros são bastante populares por todo o mundo e alguns dos seus principais eventos somam décadas de campeonatos com premiações.
Porém aconteceu neste início de 2017 o evento norte americano Visa Vegas eRace, em Las Vegas, Nevada, e foi o evento de corrida de simulação mais lucrativo até os dias atuais. O vencedor levou 200 mil dólares para casa, mas o significado da competição foi muito além disso, já que 20 pilotos profissionais da Fórmula E, categoria de carros elétricos associada à FIA (Federação Internacional de Automobilismo) disputaram os prêmios contra 10 dos melhores pilotos de simulação do mundo virtual.
O evento foi apoiado por donos, equipes e patrocinadores da Fórmula E e retornou com uma competição acirrada entre os pilotos profissionais e virtuais. Mas houveram também muitas controvérsias e o jogo escolhido para o campeonato – o famigerado rFactor 2, conhecido no mundo da simulação virtual e real – recebeu algumas críticas do público espectador.
Todos os 20 pilotos do gride da Fórmula E participaram juntamente com os 10 pilotos virtuais, um para cada uma das 10 equipes da categoria.
O circuito escolhido foi especialmente projetado para o campeonato com 5 quilômetros de extensão (3.13 milhas), desenhado dentro de Las Vegas. O mais interessante é que nenhum dos pilotos conheceu o circuito de 20 curvas até um dia antes da prova, deixando muito pouco tempo para treinos.
Para deixar tudo ainda mais complexo, todos utilizaram o mesmo setup em seus carros, cockpits e volantes também foram totalmente equalizados. A corrida pôde ser acompanhada ao vivo no Twitch, que está disponível também em versão gravada.
O piloto virtual Bono Huis se classificou em primeiro lugar na qualificação da etapa final, ao lado do piloto profissional da equipe Mahindra Racing da Fórmula E, Felix Rosenqvist. Com a pole position Bono levou um prêmio extra de US$ 25.000.
Os pilotos da categoria tiveram trabalho para chegar à final, conforme justificou o piloto brasileiro da ABT Schaeffler Audi Sport, Lucas di Grassi: “No final das contas, simuladores são mais jogos de vídeo game do que carros de corrida. Os fãs investem muito tempo com o jogo em casa e, como resultado, levam vantagem, o que nós tentamos compensar com nossa experiência nas pistas. Mas nós aprendemos rápido e a tecnologia evolui depressa – talvez as coisas sejam diferentes na próxima.”
A grande final da Visa Vegas eRace
A corrida final teve 28 voltas com um pitstop mandatório no meio da prova, como é regra no campeonato da Fórmula E. Por problemas técnicos, a prova acabou sendo reduzida para apenas 20 voltas no final.
Novamente os pilotos Bono Huis e Felix Rosenqvist fizeram um bom início de prova largando no começo do gride e abriram uma boa vantagem para os demais. Um grande acidente envolvendo três carros terminou com terríveis capotagens e um voo sobre a proteção da pista, para sorte dos pilotos, não em uma corrida real.
Após os pitstops obrigatórios o piloto Olli Pahkala se aproveitou de uma estratégia inteligente e voltas excelentes para assumir a primeira posição e se manter à frente de Huis e Rosenqvist, que terminaram na segunda e terceira posições, entregando o prêmio de 200 mil dólares ao piloto virtual da Mahindra.
Porém, após a cerimônia de premiação Pahkala descobriu que havia vencido devido à uma vantagem injusta causada por problemas de software do jogo, que não desabilitou o Fan Boost, tradicional sistema de interação com o público da Fórmula E, que dá mais potência ao carro durante um curto período de tempo. Com isso o piloto foi penalizado e acabou caindo para a terceira posição, com a terrível consequência da perda de 100 mil dólares do seu prêmio.
Huis terminou, assim, na primeira colocação e levou o prêmio de 200 mil dólares somado aos 25 mil ganhos com a pole position. Bono Huis afirmou após a vitória que “foi muito emocionante estar aqui, correndo juntamente com pilotos profissionais em um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. E também ser o grande vencedor com a Faraday Future Dragon Racing foi espetacular!”
Rosenqvist terminou na segunda colocação e como o piloto profissional mais bem posicionado, recebendo o prêmio de 100 mil dólares. “Você pode perceber que o ambiente de simulação de corridas é muito novo para nós todos [pilotos], já que estamos acostumados a estar dentro de um carro de corridas de verdade e não sentados em frente à um monte de gente. Mas no final das contas tudo funcionou muito bem para mim e acabei ficando na ponta em todas as sessões. Por sorte me classifiquei bem para a final e pude realizar um primeiro stint com pista limpa, sem tráfego, terminando na segunda posição. Espero participar de mais corridas como esta no futuro! Agora nós vamos comemorar um pouco!”, afirmou antes de deixar as entrevistas.
Já Pahkala, companheiro de equipe de Rosenqvist, não se decepcionou com a punição e afirmou que “terminar em terceiro foi muito bem vindo. Foi um estouro! Cometi alguns erros durante os treinos que me custaram no ritmo de corrida. No final das contas o resultado foi justo para todos”, concluiu.
Uma estratégia diferenciada
O CEO da categoria Fórmula E, Alejandro Agag, afirmou que a estratégia do evento deu certo. “Definitivamente, eu penso, que os vídeo games são parte essencial da estratégia para trazer novos espectadores para a Fórmula E. Como categoria nós queremos ser diferentes do costumeiro esporte à motor e vídeo game é definitivamente uma das direções que pretendemos perseguir para fazer da Fórmula E uma proposta totalmente diferente das categorias tradicionais.”