Marvel vs Capcom: Infinite causou muita desconfiança durante os meses que sucederam seu anúncio. O modelo de personagens parecia bastante questionável, a interferência da Marvel – agora controlada pela Disney – soava como algo opressivo e a terrível demo do modo história que foi disponibilizada não ajudou nem um pouco a aumentar a expectativa pelo game. Entretanto, apesar de apresentar de fato alguns dos problemas que já eram notáveis há muito tempo, o novo título da Capcom é extremamente divertido, possui um enorme potencial competitivo e, felizmente, mantém a essência da série.
Ainda que tenha sido aprimorado em relação ao que vimos no início, o visual do game é bastante decepcionante. Alguns personagens, como Capitão América e Haggar, possuem um corpo completamente desproporcional à cabeça, enquanto o rosto de outros é repleto de olhares vazios e expressões estranhas, a exemplo de Chris e Dante. Sem contar que o modelo fotorrealista de lutadores como a Capitã Marvel não combina com o retrato cartunesco de Firebrand ou Arthur. É bastante claro que a Capcom tentou adotar o estilo realista visando a grande audiência do universo cinematográfico da Marvel, mas o resultado é uma grande bagunça.
O modo história de Marvel vs Capcom: Infinite também é pouco inspirado. Os diálogos são recheados de clichês e frases de efeito bobas, enquanto o roteiro é quase inteiro composto por justificativas rasas e desfechos previsíveis. Mesmo o gameplay da aventura não se salva, pois existe um excesso de combates contra andróides e outros oponentes genéricos que não possui absolutamente nada de interessante. Novamente a produtora japonesa mirou no público casual, porém aqueles que comprarem o game por conta do modo história certamente irão se decepcionar.
Entre dois mundos
Entretanto, apesar de falhar nos gráficos e no modo história, Marvel vs Capcom: Infinite acerta em cheio nos combates. A decisão de abandonar os trios e voltar à estrutura clássica de duplas não poderia ser mais correta, especialmente por conta da introdução do sistema Active Switch, que permite trocar para seu parceiro durante qualquer momento, incluindo no meio de combos e especiais. Isto adiciona uma dinâmica completamente nova ao gameplay da série, e gera possibilidades de sinergia quase infinitas entre os personagens.
Outra adição muito bem-vinda é a das Jóias do Infinito. No início de cada luta, juntamente com os lutadores, o jogador deverá escolher uma entre as seis jóias disponíveis, e poderá usufruir de duas habilidades especiais do artefato, batizadas de Infinity Surge e Infinity Storm. A primeira pode ser acionada a qualquer momento com um toque de botão, e a segunda, uma espécie de especial, depende de uma barra própria estar (ao menos parcialmente) cheia.
Cada jóia é totalmente única, e incrivelmente poderosa. A Jóia do Espaço, por exemplo, tem a capacidade de confinar o adversário em uma área minúscula, reduzindo drasticamente sua movimentação, enquanto a Jóia da Alma possui o poder de ressuscitar um aliado morto. A força excepcional dos artefatos, inclusive, abre a possibilidade de existirem duplas compostas apenas para explorar ao máximo seu potencial.
Sabendo da complexidade que a série sempre teve na execução de comandos, a Capcom adicionou alguns assistentes para facilitar a vida dos novatos. O game permite realizar combos automaticamente apertando apenas um botão diversas vezes, e também dá a possibilidade de executar os especiais de forma mais simples. Estas opções são extremamente inteligentes, pois ao mesmo tempo que ajudam tremendamente os jogadores casuais, não tiram a profundidade dos combates de alto nível.
Quanto aos modos de jogo, Marvel vs Capcom: Infinite vem “completo de fábrica”, com um modo arcade tradicional (tão pedido em Street Fighter V desde seu lançamento), um robusto modo treino, missões para aprimorar suas habilidades com cada lutador, e o óbvio modo online, que conta com salas, partidas ranqueadas e casuais. Vale destacar o excelente código de rede do game, que raramente apresenta lag ou atrasos nos comandos, mesmo contra adversários de outros países.
Mais Marvel, menos Capcom
A influência da Marvel no quadro de lutadores foi um dos assuntos mais comentados durante o ciclo de divulgação do título, e o que todos imaginavam se concretizou: o plantel da gigante dos quadrinhos é formado exclusivamente por personagens de seu universo cinematográfico. É compreensível que talvez esta seja uma das condições para o game existir, mas a ausência de personalidades clássicas da série, como Wolverine, Dr. Destino e Magneto acaba sendo muito sentida pelos fãs.
O que não é compreensível, entretanto, é a repetição de tantos personagens de Ultimate Marvel vs Capcom 3, especialmente pelo lado da produtora japonesa. Spencer e Firebrand nunca foram especialmente populares ou importantes e parecem deslocados até no modo história, enquanto Chris e Nemesis poderiam facilmente dar lugar a Leon e Tyrant, por exemplo. O plantel completo possui trinta lutadores, sendo que vinte e quatro já estavam presentes no título anterior da franquia. É uma pena, especialmente considerando o quão divertidos são os personagens novos.