Se existe um ponto principal a se destacar em Yooka-Laylee, da Playtonic, é a fidelidade a sua proposta inicial. Concebido por ex-desenvolvedores da Rare, o título prometia ser um platformer 3D clássico do final da década de 90, trazendo de volta a fórmula popularizada por obras como Banjo-Kazooie, Conker’s Bad Fur Day e Super Mario 64.
A boa notícia é que a Playtonic cumpriu sua palavra à risca, entregando um jogo que parece ter saído diretamente do catálogo do Nintendo 64. O problema é que, sendo fiel demais, todos os defeitos do início da era 3D vieram junto no pacote.
Enquanto a jogabilidade 2D dos 8 e 16-bits resistiu bem ao teste do tempo, não podemos dizer o mesmo dos anos iniciais do 3D. Tratava-se de uma época onde desenvolvedores ainda lutavam para descobrir como deveria funcionar uma câmera em terceira pessoa e, somando isso com controles experimentais e level design arcaico, muitas vezes tínhamos experiências frustrantes e nada agradáveis.
Ao optar por ignorar qualquer solução apresentada nos últimos vinte anos para estes problemas, Yooka-Laylee agradará apenas os nostálgicos da época. Os apoiadores de seu projeto de financiamento coletivo devem estar, em sua maioria, felizes com o resultado, mas o restante dos jogadores dificilmente conseguirá ignorar todos os problemas que o título apresenta.
Yooka-Laylee como nos velhos tempos
A estrutura do game segue a mesma fórmula de Banjo-Kazooie: o jogador controla Yooka e Laylee (um lagarto e um morcego, respectivamente) e deverá coletar uma série de itens – as chamadas Pagies, páginas de um livro roubado pelo antagonista – que estão espalhados por um total de cinco mundos diferentes, conectados por um grande hub. Ao adentrar em um deles você deverá cumprir missões incumbidas por NPCs e explorar o cenário atrás das Pagies e outros coletáveis; ao adquirir uma certa quantidade delas poderá habilitar novos mundos e expandir os que já visitou, liberando novos trechos no mapa.
Para auxiliar na jornada, Yooka e Laylee podem adquirir uma série de power-ups diferentes que permitirão acesso a lugares antes inalcançáveis. Os poderes – vendidos pela cobra Trowzer em troca de Quills (outro coletável do game) – são criativos, interessantes e funcionam muito bem com o design das fases. Por exemplo, uma das perícias permite que Yooka coma plantas que lhe dão o poder de cuspir fogo, gelo ou água, dependendo do tipo das folhas ingeridas; ao utilizar a habilidade em uma nuvem que abastece o rio que corta um dos mundos, é possível fazê-la congelar ou descongelar o fluxo da água, dando a possibilidade de alcançar áreas diferentes do cenário.
O visual do game é bastante vivo e colorido, e o bom trabalho da parte gráfica demonstra que a Playtonic soube utilizar bem o orçamento limitado que possuía. A trilha sonora – assinada pelos veteranos David Wise (Donkey Kong Country), Grant Kirkhope (Viva Piñata, GoldenEye 007) e Steve Burke (Kameo: Elements of Power) – não se destaca, mas dita bem o ritmo da aventura no geral.
Entretanto, as motivações que incitam o jogador a explorar os mundos de Yooka-Laylee acabam por aqui. Todo o resto está mais contra você do que a favor.
Evolução? Que evolução?
A câmera parece ter vontade própria, muitas vezes apontando para ângulos sem sentido ou escolhendo profundidades que atrapalham seu campo de visão. Isso, somado a controles imprecisos que nada ajudam, faz com que muitas vezes você pule em plataformas sem ter certeza de onde aterrissará, resultando em constantes quedas para metros abaixo. É frustrante e irritante.
O combate é ruim e desnecessário, se resumindo a apertar um botão e ir na direção do inimigo para matá-lo com um único golpe, e a simples tarefa de locomover-se pelo mapa acaba se tornando chata por conta das criaturas reaparecendo a cada minuto, sempre no mesmo lugar.
A Playtonic ainda apela para a nostalgia barata com diversas piadas e referências aos anos 90, mas falha na maioria das vezes em que tenta ser engraçada. Uma destas brincadeiras que acaba se tornando desastrosa são os minigames do personagem Retrox, que tentam imitar jogos retrô, mas não se dão ao trabalho de sequer utilizar os gráficos da época, sem contar que possuem uma jogabilidade muito ruim.
Entretanto, nada é pior em Yooka-Laylee do que seu abominável design de som. Os personagens do game comunicam-se através de grunhidos cacofônicos e os barulhos são repetidos a cada sílaba durante toda a duração dos diálogos, que muitas vezes não podem ser pulados. Considerando que o game tem uma quantidade generosa de textos, prepare-se para horas e mais horas de tortura sonora.