Não é de hoje que a indústria dos videogames luta contra os trapaceiros, mas com o crescimento dos eSports, modalidades de jogos eletrônicos competitivos e a evidência de campeonatos como o The Evolution Championship Series (Evo), o ESL Pro League, entre outros eventos de grande porte com premiações consideráveis, a prática de trapacear em jogos eletrônicos se tornou tão comum quanto perigosa para a indústria dos games.

Conforme publicado em uma excelente matéria do Wall Street Journal: “Os cheats são o equivalente nos eSports ao uso de drogas de aumento de performance nos esportes, proibidas em todo o mundo pelas políticas antidoping.”

Já faz muito tempo que tornou-se comum ouvirmos falar de técnicas de trapaça como o AFK (Away From Keyboard), onde um jogador “espetinho” utiliza um software ou mesmo amarra o joystick com um elástico para que seu personagem prossiga automaticamente dentro de um jogo, ganhando experiência, moedas ou bônus pelo simples fato de estar conectado e ativo no game.

Estas formas de utilização de softwares ou exploração de bugs são algumas das mais comuns entre os gamers trapaceiros de todo o mundo, fato confirmado por uma recente pesquisa da Nielsen, que apontou que 16% dos seus 939 respondentes já utilizaram alguma forma de trapaça em videogames. Ainda segundo o levantamento, ao menos um terço afirmou que já parou de jogar um jogo por causa de outros jogadores trapaceiros, enquanto 38% acreditam que o problema vem se agravando nos últimos anos.

A prática de trapaça em videogames leva muitos jogadores a se afastarem de seus jogos queridos e causa problemas para as empresas, que veem os não-trapaceiros evadirem seus servidores e desanimarem com seus grandes lançamentos.

Até aí, qualquer jogador de games multiplayer já sofreu ou passou nervoso com algum fato semelhante. Porém, quando passamos a abordar a questão dentro do mundo dos eSports o buraco se torna ainda maior.

A Ubisoft afirma estar ciente das trapaças em For Honor e agirá com mãos de ferro em prol dos eSports.
A Ubisoft afirma estar ciente das trapaças em For Honor e agirá com mãos de ferro em prol dos eSports.

A trapaça no mundo milionário dos eSports

Com os campeonatos de eSport ganhando evidência entre o público e a mídia, recebendo cada vez mais cobertura e até transmissões abertas e canais de TV dedicados, a prática da trapaça pode ir além da desistência dos jogadores, mas atingir também a reputação dos eSports como um todo, derrubando sua aceitação pública.

Empresas como a própria Activision-Blizzard e organizadores de campeonatos de eSport como a ESL, que promove mais de 10.000 campeonatos por ano nas mais diferentes categorias de jogos, vêm investindo centenas de milhares de dólares no combate aos cheaters. O dinheiro se divide entre a contratação de softwares para inibir as práticas, criação de políticas e novos termos de uso, até a contratação de engenheiros especialistas e espiões, que têm como objetivo identificar, denunciar e expulsar jogadores que abusam de práticas ilícitas.

Apesar de não serem ilegais, estes softwares de trapaça violam os termos de uso e serviço dos jogos e das suas empresas desenvolvedoras.

Os valores podem ser altos, tanto para quem adquire um software de trapaça quanto para quem simplesmente tentar inibir ou banir jogadores que os utilizam. Mas quando falamos de torneios de eSport é preciso lembrar que suas premiações podem chegar a milhões de dólares, com massivo investimentos das empresas em seus times de atletas estrelados, sendo que a prática da trapaça pode simplesmente destruir o interesse do público nestes eventos.

Um caso recente abordado aqui no WannaPlay foi o banimento de 1.500 jogadores e a notificação de outros 4.000 do recém lançado For Honor. A desenvolvedora Ubisoft vem sofrendo baixas na luta contra a prática de trapaça em For Honor, sendo que 45% dos jogadores iniciais que adquiriram o jogo desde o seu lançamento o abandonaram por completo.

Segundo a própria Ubisoft Montreal, “este tipo de conduta afeta negativamente a experiências de outros jogadores e, por isso, se tornou a principal prioridade da empresa. Por isso, estamos punindo todos os jogadores que forem pegos utilizando técnicas de AFK Faming repetidamente.”

Além das técnicas de AFK e softwares que permitem coletar itens, moedas virtuais e experiência de forma ilícita, existem outros modelos de trapaça que contemplam também melhorias automáticas na precisão da mira, a capacidade de visualizar outros jogadores através das paredes, desviar de tiros automaticamente, além da exploração de bugs e de esconderijos em áreas corrompidas para eliminar a concorrência com enorme vantagem dentro de um shooter competitivo, por exemplo.

Jogadores abandonam games onde investiram centenas – as vezes milhares – de dólares por causa de trapaceiros. A Ubisoft já expulsou mais de 40.000 jogadores por diferentes formas de trapaça em Tom Clancy’s The Division, mas continua a sofrer com a desistência por parte de seus bons jogadores, cansados de sofrer, encontrando nas partidas multiplayer até mesmo cheaters invisíveis.

Empresas chegam a gastar milhares de dólares no aluguel de softwares criados para inibir as práticas de trapaça de seus servidores, porém nem mesmo estes são infalíveis e os trapaceiros se mostram cada vez mais criativos e sofisticados perante as restrições.

Com o crescimento e a popularização dos eSports, as práticas de trapaça devem ganhar força igualmente, mas é de se esperar que as ações das desenvolvedoras e promotoras de campeonatos tornem-se cada vez mais rigorosas contra os trapaceiros.

E fica aqui um alerta que nasceu lá nos anos 80, com um pedido para você que realmente ama os jogos e os campeonatos de eSports: “Vencedores não usam cheats”